Bom Dia!!!
Hoje resolvi postar sobre um assunto um tanto quanto polêmico, principalmente para os Profissionais que atuam nas Salas Regulares e que muitas vezes têm dúvidas sobre como intervir no processo de Ensino e Aprendizagem dos Alunos e Alunas com Necessidades Educacionais Especiais.
O campo das Necessidades Educacionais Especiais é vasto! Quem trabalha em Escola sabe disso! A cada ano mais e mais Alunos e Alunas chegam às Escolas com quadros de Deficiência, Dificuldades de Aprendizagem, Situações de Risco Social: fome, maus tratos, violência, abuso sexual. Enfim quando falamos em NEE ( Necessidades Educacionais Especiais), temos muitos exemplos espalhados pelas diversas Unidades Escolares brasileiras.
O fato é que apesar de toda essa diversidade de NEE, os instrumentos legais que contamos até o dia de hoje, no campo do Atendimento Educacional Especializado (AEE), limita-se ao atendimento das Necessidades Educacionais Especiais acompanhadas dos quadros de Deficiência, Transtornos Globais de Desenvolvimento ( Autismo e suas diversidades TEA) e Altas Habilidades. Sendo os quadros de Autismo desde dezembro último também considerados como casos de Deficiência através da Lei 12764.
Pois bem, falando de AEE ( Atendimento Educacional Especializado), uma das principais funções dos Profissionais de AEE, visto que uma sigla não se faz sozinha, necessita de Profissionais capacitados para a realização deste trabalho, é o de oferecer condições de acessibilidade aos Alunos que se encaixam nos quadros acima citados, para que possam não só frequentarem as Salas Regulares de Ensino, como também para que possam aprimorar suas capacidades cognitivas em todas as áreas, promovendo a construção da Aprendizagem.
Quando falamos em Aprender, simultaneamente estamos falando também em Ensinar. O Ato de Aprender está intimamente ligado ao ato de Ensinar. E quando falamos em Ensinar estamos nos remetendo a concepções que cada profissional tem do que é Ensinar.
Diferentes Pensadores contribuíram e ainda contribuem, sobre este tema inesgotável. temos contribuições das áreas da Pedagogia, Psicologia, Medicina, Artes, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Tecnologia,enfim ninguém pode dizer que não tem material para pesquisa.
Em respeito a minha área de atuação que é a Pedagogia, vou me deter em um dos Pensadores que foi e é , pois sua presença em minha prática é muito viva, importantíssima : Professor Paulo Freire.
Para o Professor Paulo Freire, quando falamos em Ensino e Aprendizagem, estamos construindo nossa prática pedagógica em dois alicerces distintos: ou acreditamos em uma Educação Bancária ou em uma Educação Libertária.
A grosso modo, com perdão do Professor, ou Eu Acredito e construo minha prática para a Liberdade de Aprender a Aprender, considerando todas as capacidades do meu Aluno ou Aluna, transformando sua Realidade ou Eu mantenho a Opressão Bancária de Ensinar formalmente desconsiderando as características individualizadas de cada Aluno.
Essa concepção toma um contexto fantástico na Educação Inclusiva. O meu Aluno e Aluna com Deficiência tem potencialidades e dificuldades como qualquer outro Aluno. E Eu Profissional de Educação, tenho uma importância significativa na vida deste Aluno ou Aluna ímpar, pois muitos deles só terão a Escola para descobrirem suas potencialidades, pois todos sabemos que a cultura humana é muito capacitada para olhar, reparar e até monitorar defeitos, dificuldades, erros, tropeços.
Vocês que aguentaram a leitura deste texto até aqui devem estar se perguntando, mas o que isso tudo tem a ver com o título da postagem?
O motivo deste caminho todo que estou traçando neste texto é devido às inúmeras dúvidas que me chegam diariamente de Colegas Educadores sobre como adequar atividades para Alunos e Alunas Autistas, Deficientes Múltiplos, Deficientes Intelectuais, e muitos outros.
Amigos e Amigas Educadores, não existe modelos de atividades para Alunos A ou B. As atividades para todos os Alunos têm de estar contextualizadas com o trabalho do Professor e Professora, ou seja, quando falamos em Adequação Curricular, falamos em Currículo e Currículo é instrumento de trabalho de cada Professor ou Professora em sua área de atuação.
Para saber, quando falamos em Adequação Curricular, podemos estar falando em três situações distintas:
* Currículo Igual: Permanecem os mesmos objetivos para todos, com o mesmo conteúdo trabalhado, as mesmas propostas de atividades, com apenas alguns Apoios Necessários dependendo das NEE do Aluno com Deficiência que tenho em minha turma. Não por sua Deficiência, mas por suas condições funcionais: Potencialidades e Dificuldades. Em geral o Currículo é mantido igual em casos de Alunos que não têm prejuízos cognitivos. É o caso do Aluno que é cego, portanto precisa que o conteúdo da aula seja contextualizado em braile, ou do Aluno surdo que precisará do contexto em Libras e do Interprete.
* Currículo Multinível: É aquele onde o conteúdo permanece, contudo alteram-se algumas atividades, ambientes e objetivos. Neste tipo de alteração curricular, geralmente eu, Professor ou Professora atendo às NEE dos Alunos e Alunas que apresentam alguma alteração cognitiva ( Deficiência Intelectual), levando em consideração as habilidades funcionais deste Aluno ou Aluna, e não o tipo de Deficiência, pois Alunos com o mesmo tipo de Deficiência não são iguais. Precisamos aprender a enxergar além das Deficiências. A grande novidade é que meu objetivo com este Aluno ou Aluna neste tipo de Currículo é que posso e devo alterar os objetivos para esse Aluno ou Aluna, de acordo com suas potencialidades. Não preciso de uma aula especial para Ele ou Ela, só preciso de outro "Olhar" processual e avaliativo.
* Currículo Sobreposto ou Flexibilizado: É aquele currículo onde devido a funcionalidade do Aluno ou Aluna que atendo na Sala Regular estarem limitadas, preciso alterar objetivos, atividades e até ambientes variados, como sala de informática, pátio, jardim, etc. Porém o tema, o conteúdo trabalhado na aula regular permanece o mesmo, ou seja, eu não vou preparar uma Aula Diferente para esse Aluno ou Aluna, eu vou flexibilizar minha proposta de Aula para que Ele ou Ela seja incluso na Aula e principalmente para que eu Professor e Professora possa conhecer ainda mais as capacidades deste Aluno ou Aluna, contemplando sua avaliação, com indicadores que mostrem claramente o que esse Aluno ou Aluna foi capaz de realizar.
Portanto Amigas e Amigos, não devemos nos preocupar em construir materiais focados em terapias comportamentais, pois isso não é tarefa da Escola Regular e sim de Clínicas e Profissionais de outras áreas.
Nossa tarefa é Pedagógica e qualquer intervenção ou adequação deve partir do Universo Pedagógico para o Universo Pedagógico.
Lembremos que o foco da Educação Inclusiva é o de Incluir o Aluno no Universo da escola Regular e não o de tratá-lo como um paciente. Caso contrário estaremos construindo novos guetos, novas salas especiais, dentro das salas regulares.
Cada caso é único e singular. Podemos e devemos trabalhar em consonância com outros Profissionais, contudo sem perder de vista nosso papel pedagógico.
Para finalizar, gosto sempre de exemplificar o que escrevo. Para hoje escolhi algumas atividades que foram preparadas para o atendimento das NEE de um Aluno dentro do espectro autista, de uma sala regular, onde eu atendia como responsável pelo Atendimento Educacional Especializado. Esse Aluno estava matriculado em uma sala regular do 1º ano do Ensino Fundamental I, de uma Escola Pública da região oeste do Município de São Paulo.
Mantivemos os mesmos objetivos, conteúdos, apenas alteramos as atividades apoiando sensorialmente as informações trabalhadas pela Professora durante a aula, devido as capacidades funcionais do Aluno em questão.
Espero ter ajudado! Até mais!
Professora: Elaine Cristina Alves de Carvalho Leal.